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domingo, 8 de janeiro de 2012

A nudez desde os tempos antigos até às culturas modernas (Parte 3)

Aileen Goodson

(Este capítulo é um excerto do livro de Aileen Goodson - Therapy, Nudity & Joy)

A Nudez na Índia Antiga

Sabe-se agora que a nudez social na Grécia Antiga foi incentivada pela existência da nudez entre os homens santos da Índia. Por exemplo, quando Alexandre, o Grande, sabendo de relatos de ascetas nus na Índia, enviou Onesícrito, um filósofo grego, para investigar o gimnosofistas (nome dado pelos gregos a esses filósofos nus). As conclusões do Onesícrito devem ter impressionado e intrigado Alexandre, pois ele viajou para a Índia (em 326 A.C.) para se reunir com um grupo gimnosofista, e esta reunião levou a que existissem outros intercâmbios entre os dois países.
Pirro de Elis, o fundador da filosofia do cepticismo, estudou com o ginosofistas e, ao voltar para Elis, praticou os seus ensinamentos incluindo o nudismo. Além disso, quando o exército grego esteve na Índia, os soldados participaram em inúmeras práticas religiosas que eram acompanhadas por actividades desportivas nuas. Depois, e por vários séculos, foi relatado que os atletas gregos que competiam na Índia estavam nus ou com tanga, juntamente com os indianos.
No tempo de Alexandre (356-323 A.C.), houve uma série de seitas ascéticas na Índia, cujos membros andavam nus como parte da sua disciplina espiritual. A maior, Ajivikas, exigia a nudez completa dos seus discípulos. Este grupo durou cerca de dois mil anos antes de desaparecer completamente. Buda foi um asceta nu antes de fundar sua a própria religião, e tem sido sugerido que Buda incentivava os seus seguidores a usarem túnicas, principalmente para os distinguir das outras seitas.
Hoje em dia, a maioria dos homens santos nus, da Índia, estão associados com os Jainistas, membros de uma grande religião indiana fundada por volta de 500 A.C.. Mahavira, fundador do jainismo, insistiu na nudez completa para os monges como parte dos seus votos de desistir de todos os bens materiais. Com o tempo houve uma divisão nesse grupo, sendo a nudez um sofrimento demasiado alto para os Jainistas que habitavam as partes mais frias do norte da Índia. Estes nortistas passaram a usar vestes e ficaram conhecidos como Suetambaras, ou “de branco vestidos”, enquanto os sulistas (por não usarem roupas) foram posteriormente referidos como Digambaras, ou "vestidos com o céu". Os jainistas têm muitos seguidores na Índia de hoje.
Paul LeValley, em seu artigo Ancient India, compara os gregos com os gimnosofistas: "As razões que cada um deu para justificar o seu ascetismo nu ou os seus atletas nus eram incrivelmente similares .... [Eles falaram] de eficiência .... Cada grupo conhecido, de ascetas indianos nus, elogiam os valores da vida simples que a nudez incentiva, o legislador de Esparta, defendeu a nudez entre os seus cidadãos, pela mesma razão... [mais] por motivos de saúde .... "
Os gimnosofistas elogiavam a nudez como um método de construção da resistência, como fizeram os gregos. Outra razão dada para a nudez era, que promovia o "pensamento independente e a auto-confiança ...."
LeValley afirma ainda que "Mahavira criticou abertamente os gregos, que na sua maioria confinavam a sua nudez ao ginásio, por serem menos confiantes do que os ascetas indianos. Mahavira frequentemente menciona a nudez como um método para se tornarem livres de amarras ... contentamento sem roupas .... " indianos e gregos concordaram ambos que a nudez representava um estado de pureza e honestidade.
LeValley aponta também algumas diferenças entre as duas culturas, como o enfase dos gregos na beleza do corpo humano, uma questão de importância consideravelmente mais pequena na filosofia religiosa da Índia. Considerando que a gimnosofistas da Índia se referem à sua nudez como um "passo na direção de alcançar a unidade com todo o universo, ou moksha ('a bem-aventurança da iluminação")", os gregos consideravam a nudez como uma base para e como expressão da totalidade do indivíduo e da sociedade. Os gregos, portanto, colocavam mais enfase na diversão, na música, na dança e no prazer físico.
"Talvez o maior valor que ambos os grupos tinham em comum”, Levalley continua," ... foi a associação dos ascetas indianos e dos atletas gregos com a ideia de paz. "A base das olimpíadas, por exemplo, era reunir cidades-estado dissidentes da Grécia para uma competição pacífica e confraternização, enquanto os jainistas, por sua vez, praticavam a não-violência e o vegetarianismo. Até aos dias de hoje, alguns jainistas levam estes princípios ao extremo, usando sempre máscaras que tapam o nariz e a boca, para que os insectos sejam protegidos de serem sugados acidentalmente. Gandhi baseou seu movimento de reforma política e social nesta prática jainista da não-violência.
Durante o controle britânico da Índia, a prática do nudismo dos gimnosofistas foi muito reduzida.
No entanto, agora que existe uma república independente da Índia, os jainistas são novamente livres de praticar a nudez na sua religião. Hoje, na Índia, algumas mulheres também já se juntaram aos grupos dos jainistas ascetas nus.
O Sakas, uma seita hindú da Índia, têm transmitido as suas tradições da nudez na Índia através de milhares de esculturas explícitas que permanecem nas paredes da cidade de Khajurako. Construído por volta de 1000 D.C., este templo em Khajurako comunica os seus valores para o visitante com uma franqueza que não deixa nada à imaginação. "Dezenas de milhares de figuras humanas e de animais, dançam alegremente sobre e ao redor das fachadas destes edifícios .... Reis e plebeus são retratados em união sexual feliz, completamente nus, excepto por missangas, pulseiras, e decoração .... A beleza do corpo foi exaltada, desfilada mesmo. E, dado que a função sexual é parte do corpo, essa também foi exaltada. "
O templo Khajurako não é um exemplo isolado da grande tolerância para a nudez na Índia antiga. Outros templos indianos, como os reverenciados santuários em Konarak e Ellora, também exibem esculturas eróticas altamente realistas. Estas representações não eram, obviamente, consideradas obscenas pelo povo que viveu na época em que foram criadas. A sua frontalidade e a sua colocação em locais públicos centrais, mostra que eles eram uma parte essencial da experiência de vida da comunidade, parte da construção da sua vida social, educacional e religiosa.
O historiador de arte Mulk Raj Anand discute abertamente estas esculturas eróticas no seu livro Kama Kala, utilizando-as para explicar as diferenças entre as atitudes oriental e ocidental a respeito do corpo humano e sexualidade. Falando destas celebrações da vida, ele diz: "Há um prazer mútuo que excita não o riso, mas a reverência .... Adoração do sol [foi] demonstrado na energia que traz os casais juntos .... As formas masculino e feminino tornam-se assim a manifestação da dualidade desejada pelo Deus Supremo, os símbolos terrenos de virilidade e procriação. E assim como o nosso amor humano é visto como um símbolo do grande amor do Deus supremo, também a alegria da união física reflete a alegria sem limites da Divindade na criação."
Mulk Raj Anand refere que o sexo tem sido levado para "cantos furtivos" nas zonas mais a Oeste. Ele acredita que as atitudes modernas de pudicismo originárias dos ensinamentos religiosos, são uma parte infeliz da cultura ocidental e não permitem de forma adequada uma discussão aberta sobre a ternura da prática sexual.
Embora os modernos guias turísticos indianos não possam evitar de mostrar estas esculturas nuas de Khajurako, Konarak, e Ellora aos turistas, é relatado por muitos observadores de que eles não se sentem confortáveis em fazê-lo. É evidente que a liberdade do corpo representada na arte pública de templos antigos, não está enraizada no estilo de vida ocidentalizado da Índia contemporânea.

Tradução livre casaisnudistas
Via Primitivism

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